23 de julho de 2015

O vestido



Era muito pobre, tinha 17 anos, quando foi servir ao vice-cônsul americano.
Maria ia para tomar conta de três meninos, que moravam na Avenida Gaspar Frutuoso. Passado algum tempo a família do cônsul foi-se embora com muito pesar. Na casa do cônsul frequentava um piloto, que deparou-se com a foto de Maria, que a família do cônsul levara para a América, como recordação.
- "Quem é esta bela moça? - perguntou o piloto à mulher do cônsul. - É a moça que tomou conta dos meu filhos nos Açores. - respondeu a mulher com saudades de Maria.
- Senhora, nunca vi moça tão bela! Será que podia dar-me o endereço dela? - perguntou o piloto encantado com a beleza de Maria.
E assim aconteceu. O piloto, Edward, começou a trocar correspondência com Maria e pediu a ela uma foto, já que a única que tinha pertencia ao cônsul.
Como era uma moça muito pobre, simpática e carinhosa, sua mãe não tinha dinheiro para comprar um vestido para a filha que pudesse ainda mais embelezar Maria e então uma vizinha emprestou soube do sucedido e emprestou seu melhor vestido. E lá foi Maria tirar a dita fotografia. Como era um piloto inglês, ele não sabia falar português e ela muito menos inglês.    
Maria tinha uma vizinha que era americana (Mimi, esposa do senhor Augusto) e traduzia as cartas em português para Maria. Quando ela escrevia as cartas, dizia senhora Mimi:
- Afinal, o que queres que diga de resposta na carta? 
E ela, Maria, com a sua modesta simpatia dizia:
- Olha senhora, como não tenho estudos a senhora que escreva o que quiser, mas que mande pelo menos um beijo e um abraço ao rapaz.
O namoro durou mais que um ano e meio, depois deste tempo veio uma triste noticia, seu querido Edward, seu piloto, teve um trágico acidente, morreu.
Lá Maria chorou noites sem fim, debaixo do seus cobertores, para ninguém saber sobre o seu trágico fim. 


Foto de:
Maria Espírito Gonçalves Faria